Love Together Brasil na Vogue

Love Together Brasil na Vogue

agosto 6, 2021 Off Por Love Together Brasil

‘’Eu sou a filha da terra seca’’, diz com orgulho, Geralda Sarraf, 37 anos, Paraibana de Santana dos Garrotes, via Facetime de Nova York, onde vive desde 2006. Entre a escassez do município do semiárido brasileiro e os verdejantes jardins de Old Westbury, há um relicário de histórias de superação de uma mulher determinada, força motriz da Love Together, organização civil sem fins lucrativos que desde 2014 já atendeu mais de 8.000 mil crianças e adolescentes do sertão nordestino.

‘’Nasci no sítio do meu avô. Vivenciei a falta d’água, as mulheres carregando roupa na cabeça para lavar lá longe, no açude. Minha mãe é uma dessas sobreviventes. Vendia galinha, leite e cabra. Decidiu levar os oito filhos para estudar na cidade, em Piancó. Lá, conheceu dona Salete, uma rica senhora, que lhe deu uma casa, um sofá, uma televisão. Em troca, minha mãe cozinhava em seu restaurante, fazia uma galinha à cabidela muito gostosa’’, recorda, incluindo aí a receita. Nessa época, a pequena Geralda vendia tapioca e picolé. Levava o que considerava na época uma vida alegre. Mas é claro que ficaram algumas marcas. ‘’Os filhos de dona Salete eram sócios de um clube. Eu também queria ir. Às vezes entrava lá, me jogava na piscina, as crianças me apontavam, dizendo que eu não pertencia, os seguranças me tiravam pelos bracinhos’’, conta. ‘’Mas nunca aceitei ser vítima. Queria ser gente.’’

Aos 14 anos, ela encasquetou que iria estudar em uma escola partículas na capital, como os filhos dos abastados de Piancó. Sua mãe conseguiu lugar na casa de um parente, e lá foi ela. Acordava às 2h para fazer pão de queijo e vender nas lanchonetes da lagoa de João Pessoa’’, lembra. E assim pagou seus estudos, que, mais tarde, a levaram a cursar direito na Unip, São Paulo, aos 17. ‘’Fui estudar inglês em Nova York por seis meses. Em seis semanas, conheci meu marido’’, conta.

Os tantos exemplos de solidariedade que permeiam a vida de Geralda são certamente cruciais para o que viria a seguir. Com a ajuda da amiga e modelo Michelle Alves – Geralda é muito próxima da irmã de Guy Oseary, marido da brasileira e empresário de Madonna -, ela lançou, no fim de 2013, a campanha SOS Sertão. Angariou duas toneladas de alimentos. ‘’Não pedimos dinheiro, não acredito em dinheiro no Brasil. Pedimos contribuições e estimulamos o vonluntariado’’, diz. Desde então, a paraibana se fia em seu nato poder de persuasão. É impressionante como ela consegue mobilizar um grupo tão forte aqui em Nova York para dar suporte a causas tão distantes’’, observa Rafael Azzi, RP que a ajudou no jantar de gala da Love Together Brasil em Nova York, em fevereiro passado. Até aqui, quatro jantares, o de NY e outros três em São Paulo, levantaram fundos para a construção de seis poços artesianos no sertão – o último aconteceu em março. Entre os homenageados nos eventos, Daniela Falcão, diretora-geral das Edições Globo Condé Nast, o diretor do São Paulo Fashion Week, Paulo Borges, a colunista da Vogue Costanza Pascolato e o estilista Amir Slama. Slama engajou-se de tal modo que hoje é diretor de captação de recursos. ‘’Me encantei por Geralda e abracei a causa. Naquela região, a brincadeira das crianças é carregar balde d’água’’, lamenta. Outras figuras relevantes da moda integram o organograma: a modelo Patricia Beck é porta-voz; Isabeli Fontana, Fernanda Tavares, Emanuela de Paula e Cintia Dicker são madrinhas; e a empresária Ana Isabel Carvalho Pinto, diretora de planejamento estratégico, marketing e branding do Icomm, é embaixadora. ‘’Para quem questiona essa relação com a moda, digo que muitas modelos e pessoas do mundo fashion tiveram histórias de vida similares às das crianças que ajudamos’’, justifica Geralda.

‘’Escreva aí que a Love Together não sou eu, somos nós. É uma corrente. E tudo é mágico, tudo acontece.  O mérito é dos mais de 200 voluntários, médicos, jornalistas, empresários, socialites, empresas.’’ E ela lista item a item, das escovas de dente doadas pela multinacional ao ar-condicionado do hospital oferecido pela vizinha. Tamanha proatividade levou a instituição para além do Nordeste  – há projetos em cidades do Sul e Sudeste do País. E até nos Estados Unidos: ‘’Já fizemos três ações para a comunidade latina no Queens’’, conta.

Mas o que há de mais ambicioso está por vir. ‘’Quando eu era criança, passava por um terreno na entrada de Piancó e pensava: um dia ele vai ser meu! Pois o dono nos doou. E lá vamos construir um centro cultural e de esportes, para que 6.000 crianças tenham o que eu não tive, que sejam recebidas por voluntários que falem o quanto elas são especiais.’’ Ainda está nos planos conseguir bolsas de estudo em faculdades do Nordeste. E mais poços artesianos, meta do próximo jantar de gala paulistano, agosto deste ano.

Durante nossa conversa, reencontrando as memórias que inspiram seus voluntários, as crianças e os adolescentes do sertão, Geralda se emociona muitas vezes. Mas não chora de tristeza não. Foi com a alma lavada, de quem transformou seu destino. E banhou o sertão.